Corvo
8º dia
Hoje é dia de Portugal e chegámos bem cedo à ilha do Corvo, de madrugada. O porto da ilha não tem capacidade para receber o Santa Maria Manuela, por isso fundeámos ao largo. Pouco depois de “largarmos ferro” (ancorar) fomos invadidos por peixes-porco e lírios que procuravam a sombra do barco.
Antes das 10h, os líderes da expedição, Emanuel Gonçalves da Fundação Oceano Azul e Paul Rose da National Geographic Pristine Seas, o Presidente da Comissão Executiva da Fundação Oceano Azul, Tiago Pitta e Cunha que esteve connosco quatro dias,os investigadores do DOP-UAç, Pedro Afonso e Jorge Fontes, e o Comandante do Santa Maria Manuela embarcaram num bote para irem até à Vila do Corvo. Objetivo: comemorar o Dia de Portugal com mais de 20 jovens Corvinos e com os seus professores. Ficámos impressionados com a receção, num domingo, por tanta gente. Fomos para a escola da Vila onde estivemos a apresentar a expedição e os seus objetivos. Para além da simpatia de todos, crianças e adultos, a felicidade e a sede de aprender eram notórias nos seus olhos. Ainda mais quando o Comandante do Santa Maria Manuela os convidou a visitar o navio à tarde. Deram pulos de alegria, professores e alunos.
E como diz o ditado “quem vai para o mar avia-se em terra”, ainda ficámos na Vila, quase até à hora do almoço, para comprar frescos, os que havia à venda – batatas, repolho, laranjas e pêras. Couve portuguesa e alfaces deu-nos uma senhora que os foi colher à horta da casa. Sente-se ainda hoje, apesar do aeroporto e da internet, que a população de cerca de 400 pessoas continua a viver bastante isolada. Todos têm uma horta para não dependerem totalmente dos frescos e provisões que vêm de fora.
Enquanto isto, as equipas científicas, das camaras científicas e de media estavam na água.
Esperam-se dias de grande azáfama e de muitos mergulhos.
9º, 10º e 11º dias
Estes dias tiveram vários objetivos para as diferentes equipas.
Duas equipas científicas formadas por investigadores americanos, espanhóis e portuguesas de diferentes instituições estiveram totalmente dedicadas à realização de censos de algas, invertebrados e peixes. À primeira vista, ainda antes de analisar os dados recolhidos, a diversidade e abundância de peixes, como a diversidade de algas pareceram ser maiores do que noutros locais onde já mergulhámos, Flores e o canal entre o Pico e o Faial.
A equipa científica da Universidade dos Açores esteve focada na marcação de meros e de tubarões-azul. A abundância de meros na zona costeira do Corvo é notória. Há 10 anos atrás os pescadores corvinos decidiram criar uma reserva voluntária para a proteção desta espécie. Inicialmente, porque perceberam que havia interesse turístico ligado ao mergulho e existia uma empresa a operar no local que organizava mergulhos com turistas para verem meros. A empresa faliu mas os pescadores, 10 neste momento, continuam a manter a reserva.
O Sr. Pereira “Picaroto” de nascença (natural da ilha do Pico) e Corvino de casamento, é pescador desde tenra idade. O seu apoio durante três dias foi formidável. Com a sua embarcação e sabedoria de homem do mar, foi incansável na ajuda que deu à equipa científica na captura de meros para se colocarem transmissores. Após dois dias de tentativas infrutíferas, ao 3º dia (no 11º dia da expedição) conseguimos finalmente capturar dois meros fêmea e colocar-lhes os transmissores.
Já tubarões-azul, nem vê-los! Mesmo com a ajuda dos pescadores, com estes peixes não tivemos sorte nenhuma. Mas sabemos que aqui andam porque uma das nossas câmaras científicas com isco registou imagens de um indivíduo.
Quatro dias no Corvo: 18 mergulhadores/cientistas, 30 spots de mergulho e 200 mergulhos.
No fim do 11º dia de expedição (13 de junho) preparamo-nos para zarpar para as Flores e terminar os trabalhos previstos ainda ao largo desta ilha e para explorarmos zonas adjacentes, como o banco Cachalote, a cerca de 30 milhas.
Fotos 1,3,4,14,15 by Nuno Sá
Fotos 5,6,7,8,13,16,17,18,19,20,21 by Joe Lepore | Waitt Foundation